11 de maio de 2009

Japão, tecnologia celular


No quesito telefonia celular, o Japão não só fica do outro lado do mundo. Fica em outro planeta. Por que a constatação? Simplesmente porque os japoneses estão anos-luz à nossa frente no que concerne às funções de telefonia, que por lá já são zilhões de vezes mais avançadas. Por isso, o consumidor de lá ganhou a fama, com toda razão, de o mais difícil do mundo. E não eu quem está dizendo isso - fabricantes do porte de Nokia e Apple já descobriram, depois de muita luta, que "dobrar" o povo japonês é tarefa das mais complicadas. Quiçá impossível...


Recentemente, a Apple anunciou que estava dando iPhones de graça no Japão, passando o aparelho (e, por conseguinte, seu dono) a ficar vinculado a um contrato com operadoras locais. A ideia era fidelizar o cliente oferecendo o aparelho como chamariz. E não é que mesmo assim os japoneses torceram o nariz para o celular mais cobiçado do mundo ocidental?

A revista Wired, uma das bíblias da tecnologia, resolveu investigar o porquê de tanto descaso. E a resposta é mais simples do que se supunha: os japoneses não querem saber do iPhone nem do mais modernoso aparelho da Nokia pelo simples fato de que já têm produtos muito melhores, e há muito mais tempo.

Os japoneses sabem mesmo o que é bom: têm acesso a redes celulares melhores, produtos dotados da mais alta tecnologia e, claro, não caem de amores por um aparelho (o iPhone) que é, cá entre nós, deficiente sob muitos aspectos - não manda MMS, não tem Bluetooth (só para acessórios, e não para troca de arquivos com outros equipamentos), não grava vídeo, tem câmera digital fraquinha e por aí vai. Ou seja, os padrões por lá são muito elevados, enquanto os ocidentais se contentam com muito pouco...

Em novembro de 2008, a Nokia anunciou que estava se retirando oficialmente do mercado japonês, mesmo sendo ele o quarto maior do planeta, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. A única exceção seria a da marca de luxo Vertu, que continuaria sendo vendida por lá.

O porquê da decisão? As vendas da maior fabricante de telefones celulares do mundo no Japão são extremamente baixas. Mesmo com famílias de aparelhos consideradas high end (topo de linha) em todo o mundo, a Nokia também é desprezada pelo consumidor japonês. Sendo assim, a companhia finlandesa decidiu que só manteria, naquele país, setores de pesquisa e desenvolvimento, mas que as vendas por lá não valiam mais a pena.

A Nokia possui cerca de 40% do mercado mundial de celulares e tinha sérias pretensões de chegar pelo menos aos dois dígitos de participação no Japão. A empresa, no entanto, cresceu apenas 0,3% no último ano, segundo o jornal Nikkei.

A mesma coisa poderia ter feito qualquer outra companhia estrangeira. Segundo o IDC Japão, todas as empresas de fora, juntas, somam apenas 5% do mercado japonês. E que marcas os japoneses adoram? Todas as que forem locais e que, por sua vez, têm pouquíssima visibilidade no mundo ocidental.

Mas afinal, o que se usa no Japão que não se usa no resto do planeta? Muita coisa. Em primeiro lugar, a TV digital móvel, que só agora começa a dar as caras no Brasil (apenas três modelos de celulares permitem o uso do serviço, sendo um da Semp Toshiba, um da Samsung e um da LG), já é uma realidade no Japão há muitos anos. Quem viaja para lá sabe que a cena mais comum é encontrar pessoas assistindo à TV dentro de metrôs, trens e ônibus.

No Japão, os aparelhos são feitos sob medida pra cada operadora e quase todos os modelos vêm bloqueados de fábrica. Ou seja, não existe, por lá, a cultura de comprar Nokia ou de se render ao grito da moda e levar para casa um iPhone, pagando os tubos por um equipamento deficiente. Os japoneses compram direto na operadora aparelhos que na maior parte das vezes trazem a marca destas.

Outra aplicação que já faz sucesso há muito tempo no Japão é o pagamento via celular - até as tarifas de pedágio podem ser pagas através de um chip implantado no aparelho. Assim, o celular pode ser "passado" numa espécie de código de barras de um leitor qualquer e... voilá! A conta está paga, debitada da conta corrente. A mesma coisa vale para máquinas de refrigerante e de café, dentre dezenas de outras aplicações já em larga utilização.

Comparando, só agora a Europa começa a demonstrar alguns casos de sucesso de uso do celular como meio de pagamento. No Brasil, algumas apresentações já foram feitas, mas nada há de concreto - pelo menos no que diz respeito ao uso de chips inseridos nos aparelhos que podem ser lidos e, o pagamento, consumado. Enquanto isso, o uso da TV digital móvel começa a se delinear e as possibilidades ficam a cada dia mais claras para os consumidores.

Ainda temos, no entanto, muito chão pela frente para começar a nos emparelhar com o mercado japonês. Porque não é só no quesito aparelhos que eles estão anos-luz à nossa frente. Lá, as redes 3G já funcionam a plenos vapores há muitos anos e já há redes pré-comerciais de 4G, com velocidades altíssimas tanto para o download quanto para upload de arquivos para a internet. E por aqui, as redes 3G andam mascando...
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